segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Por Que Se Escolhe Esse Curso e Não Aquele?

Foto: Google
Quando o ano inicia, a azáfama habitual de se inscrever ao ensino superior toma conta dos jovens. Afinal, frequentar a universidade é sonho de a maior parte dos mancebos. Este ano, a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) anunciou ter disponível mais de cinco mil vagas para um número de candidatos avassalador, são no todo mais de 21 mil concorrentes. Dentre os cursos mais concorridos, destacam-se como de praxe nos últimos anos, a Medicina, Direito, Contabilidade e Finanças, Administração Pública e Economia.  
A escolha do curso não é um exercício simples como, a priori, pode parecer. Isso porque o curso que decidimos seguir pode nalgum momento definir com que futuramente estaremos trabalhando. Mas também, tal formação pode ditar o nosso sucesso ou fracasso. No momento da escolha da formação, surgem-nos dúvidas, certezas e não poucas vezes opiniões de terceiros procurando ajudar sobre qual formação nos pode ser benéfica. Existem aqueles que optam por fazer testes vocacionais a fim de testarem, através das suas afeições e pré-disposição, que curso estariam melhor capacitados em seguir ou se enquadram nos seus perfis. Há quem desde muito cedo já tenha certeza do que pretende ser e se candidata ao curso com o qual vem sonhando.
Num mercado de emprego demasiado competitivo como o actual, assume-se que ser certeiro na escolha do curso é fundamental, uma vez que se reduz as possibilidades de ser desempregado após a formação. Mas, afinal, que cursos os jovens decidem seguir no ensino superior? Será que todos os cursos oferecem o mesmo nível de inserção no mercado de emprego?
Hoje, a escolha dos cursos é feito consoante a demanda do mercado. Existe um preconceito de que cursos como: a Filosofia, Ciência Política, Antropologia, Sociologia, Literatura e Linguística não têm enquadramento na sociedade, tendo em consideração às exigências do campo do trabalho. A ideia de seguir, por exemplo, Filosofia é tida como a menos acertada porque, alegadamente, o país não necessita de filósofos mas sim de pessoas com "know how", com conhecimento prático e não meramente teórico. É comum encontrar pessoas que pensam assim. 
Esse estereótipo tem se generalizado levando a que muitos jovens optem por cursos tidos como os do momento, que garantem maior possibilidade aos seus formandos de se inserirem no renhido mercado de emprego. A ideia é seguir um curso que lhe conduzirá a um trabalho específico. Opta-se, por exemplo, por contabilidade porque se espera que os formandos nesta área trabalhem no sector bancário, quem faz direito espera um dia exercer advocacia ou ser procurador/juiz, quem pensa em seguir a medicina tem por objectivo ser médico e se firmar num hospital público ou privado, ou ainda numa clínica. Ninguém deseja fazer um curso que não sabe ao certo onde ou com que futuramente vai trabalhar. 
Seguir literatura ou linguística bantu pode parecer socialmente uma ideia menos sensata, visto que quando não se tem o horizonte da pertinência de um curso ou o seu campo de aplicação, assume-se tal formação como irrelevante. Questiona-se, por exemplo, sobre que tipo de trabalho o formando em literatura desenvolverá e se isso poderá gerar algum ganho que lhe garanta o auto-sustento. Questiona-se ainda onde os estudantes de literaturas poderão ser enquadrados após a formação. Conforme dizia, quando não se tem uma ideia clara do campo de aplicação de um determinado curso, presume-se que tal não tenha utilidade.
A escolha do curso é feita consoante as prioridades actuais, ou seja, que tipo de trabalho é predominante nas diferentes áreas. Sabe-se, por exemplo, que quase todas as instituições têm em um repartição dos recursos humanos, sector da contabilidade ou um gabinete jurídico; esse pressuposto é que determina na maior parte das vezes a escolha dos cursos, porquanto sabe-se de antemão que as probabilidades de um formando nestas áreas não ter emprego é reduzido, uma vez o campo de aplicação da sua formação ser transversal. 
Um gestor de recursos humanos, um técnico de contabilidade ou um jurista pode trabalhar num hospital, estabelecimento de ensino, no hotel, em instituições de pesquisa, entre outras instituições públicas ou privadas. O mesmo já não se pode dizer de um formando em filosofia, por exemplo, pois o campo de aplicação da sua formação é demasiado questionável.
Cursos que apresentam poucas opções de inserção no mercado de trabalho evidentemente não terão muitos adeptos e isso explica o por quê de alguns cursos apresentarem mais candidatos que os outros. É bem verdade que o problema nalgumas vezes não está relacionado com um certo curso, mas com a falta de conhecimento que as pessoas têm sobre a tal formação. Há quem descobre o valor de uma formação após se ter inscrito para a mesma. Certamente que esta não é melhor decisão, pois isso pode trazer algum arrependimento quando o curso no qual nos inscrevemos não corresponder às nossas expectativas e nalgum momento não desenvolvermos qualquer tipo de afeição por ele. 
Porque não raras vezes a escolha de curso não é uma decisão singular, os jovem que decidem se inscrever a um curso superior fazem-no por vezes sob influência de terceiros, familiares ou amigos. A orientação é sempre feita com base nas histórias de sucessos vivenciadas, ou seja, os jovens são induzidos a seguirem cursos que, seguramente, vão garantir algum sucesso, visibilidade, prestígio social e/ou estabilidade económica. 
Enquanto não houver um conhecimento profundo da pertinência de alguns cursos oferecidos nos diferentes estabelecimentos de ensino superior, sua utilidade e o seu respectivo campo de aplicação continuaremos ter uma grande disparidade entre no que se refere à adesão dos cursos superiores. Certamente que existem outros motivos que justiçam a escolha de um curso em detrimento do outro. 

2 comentários:

  1. Parabens Chaleque o blog esta cada vez melhor a nivel formal bem como de conteudo. keep doing please.

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  2. Obrigado pelo comentário Frank. Volte mais vezes.

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